”O passado permanece com dor (...) e receber o afeto é transformador”. A frase é do psiquiatra e terapeuta, Daniel Chutorianscy, que vê no acolhimento e na repartição de gestos de carinho, afeto e amor uma saída para um problema que vem crescendo nos últimos anos: o abuso sexual. Segundo o médico, o abusador sexual não é uma pessoa com perturbação mental, e sim um indivíduo que nutre uma perversidade, cujo prazer se dá em exercê-la contra outra pessoa, na maioria das vezes já fragilizada. “Ele exerce o seu poder, e somente o poder perverso o satisfaz inteiramente. E essa prática se dá contra recém-nascidos, crianças, adolescentes, jovens e adultos de ambos os sexos”, comenta.
Quem é o abusador? De acordo com Daniel, geralmente não é fácil identificá-lo. Na maioria das vezes, segundo ele, o agressor é um “fofo”, educado, carismático, sedutor ao extremo, que tem grande influência intra ou extrafamiliar. O abusador parece uma figura de “Papai Noel”, que pode ser o próprio pai, o avô, o irmão, o tio, o vizinho, o doutor ou até mesmo uma figura religiosa, indivíduos que exercem também o poder, como a família, a ciência ou a religião.
Para o terapeuta, o abusador independe de classe social, idade, religião, raça ou escolaridade. Acreditar e não duvidar, bem como valorizar e resgatar a pessoa que é abusada sexualmente deveria fazer parte naturalmente de nosso comportamento, mas em geral a realidade não é essa; ao contrário, as pessoas são críticas, julgadoras e céticas: “eu não acredito”, “coisa de criança”, “não é possível”, e a famosa frase “mentira, não acredito em nada disso”.
Ainda segundo Daniel, a pedofilia, uma forma doentia de satisfação sexual, acontece e se repete inúmeras vezes, gerando culpa em quem recebe, e poder em quem faz. O abusador sexual exercita seu poder criando fantasias como: “sua mãe vai morrer, se você contar”, “isso faz parte do nosso trabalho”, etc. Já o abusado sexualmente sofre eternamente. O que era o “sim” na sua vida torna-se um eterno “não”; o “outro” na sua vida, se torna inexistente. A violência transforma o abusado, que passa a desconfiar de todos. “O passado permanece sempre com dor, dor não ser acreditado, dor de não ser ouvido, dor de ser desvalorizado, e isso prossegue durante toda a vida”, aponta Chutorianscy, ressaltando que o “afeto tornou-se invisível”.
Os números
De acordo com Chutorianscy, apenas 10% dos casos de abuso sexual são notificados no Brasil, sendo que 51% ocorrem em crianças entre 1 a 5 anos. Além disso, 69,2 % dos casos de violência sexual contra meninos e meninas ocorreram dentro de casa. Já o número de adolescentes abusados é espantoso: 74.2% são do sexo feminino e 25,8% do sexo masculino.
No que diz respeito à Alienação Parental, a Justiça brasileira é lenta e acaba erroneamente por defender o abusador, que manipula psicologicamente a vítima, muitas vezes crianças, para que demonstre medo, desrespeito ou hostilidade injustificados em relação ao pai, mãe ou a outros membros da família. Há inúmeros casos em que “a mãe quer roubar o filho do pai”, frase muito utilizada nos tribunais contra as mães que denunciam o abusador sexual, que recebe de volta a criança violentada, fornecendo subsídios para a rendosa indústria dos vídeos de pedofilia.
"O sofrimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos é enorme, e quando eles conseguem falar disso, escondem a dor, por vergonha ou medo, até a idade adulta", afirma o médico. Mas, como fazer para enfrentar um problema carregado de estigma e preconceito? A saída, por mais dolorosa que seja, segundo terapeuta, é denunciar sempre, não ser cúmplice do abusador, rompendo definitivamente com esse perverso e destruidor vínculo afetivo. Nesse sentido, Chutorianscy reafirma: “o passado permanece com dor, mas receber o afeto é transformador, onde o importante é acreditar, não duvidar, valorizar, resgatar (...) o sim sempre!”.
Para dirimir quaisquer dúvidas e outras informações, entre em contato com o terapeuta e médico psiquiatra, Dr. Daniel Chutorianscy, CRM 52.27646-7 RJ, pelo telefone celular (021) 99996-6514.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário