Uma relação que já dura mais de quatro séculos, com tradições e heranças culturais sedimentadas entre Brasil e Portugal.
Foi pensando nesse “quê” dos portugueses no qual todo bom brasileiro carrega em seus hábitos diários, seja na culinária, na cultura ou na arquitetura, que a 10º edição do ENTREARTES exaltará essas referências no seu coletivo de arte. Intitulada “Portugal, o que me trazes?”, a mostra tem abertura oficial no dia 05 de março, somente para convidados, no Solar do Jambeiro e ficará aberta ao público do dia 06 de março ao dia 05 de abril, quando haverá uma finissage, que contará com visita guiada em libras e picnic no jardim.
Entre os artistas convidados figuram nomes como o de Fátima Dantas, Leila B, Lúcia Lyra, Renata Barreto e Rodrigo Saramago, com curadoria de Ana Schieck. O português Francisco Valença participa como artista plástico e chef convidado. Na abertura da exposição, ele fará uma performance gastronômica para os convidados e ministrará um workshop sobre culinária portuguesa. Outra atração será a cantora Mona Vilardo e o violonista Marco Lima que irá embalar a abertura com um repertório homenageando a terrinha.
Idealizado pela produtora cultural Cacau Dias, o projeto ENTREARTES tem como principal pilar a valorização dos movimentos artísticos, por meio da união e do fortalecimento da arte em seus mais variados segmentos. Nesse sentido, o projeto foi contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura (Lei 3182/15), que reconheceu na iniciativa uma forma genuína de fomentar grandes encontros entre artistas da cidade. Essa percepção da importância do ENTREARTES foi corroborada pelo Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), que, percebendo o dinamismo e a relevância do movimento, decidiu apoiar o projeto na íntegra, tornando-se o único incentivador das quatro edições a serem realizadas ao longo deste ano de 2020.
Sobre os artistas
Renata Barreto
Em sua segunda participação no ENTREARTES, a arquiteta e artista plástica tem em duas importantes peças originárias de Portugal suasreferências inspiradoras: o azulejo e o bordado. A proposta de Renata, que há 15 anos atua como representante da Barreto Cysneiros – Arquitetos Associados, é juntar essas duas peças tão representativas e que, como elementos decorativos e arquitetônicos, guardam uma certa singularidade.
Em sua leitura pessoal e contemporânea, as duas telas em aço, cada uma com 4m de altura, serão ornamentadas com máxi bordados que vão ilustrar a azulejaria portuguesa, toda em tons de azul. Dessa forma, a artista prestará sua homenagem à cultura lusitana, respeitando suas referências artísticas que buscam sempre uma mistura de elementos distintos.
Fátima Dantas
Psicóloga por formação, suas referências nas artes plásticas vieram do seu avô materno, que vivia em Minas Gerais. Nas férias sempre se detinha em observá-lo em seu ateliê, com suas tintas, a palheta e os pincéis. Autodidata, tem como fonte inspiradora a transcendência dos sentidos. Dessa forma, explora as cores e busca externar os movimentos internos dos sentimentos através das imagens abstratas da natureza.
As águas translúcidas e o brilho da areia, além das fortalezas e falésias imponentes, todas emolduradas pelo céu das praias lusitanas, são as fontes de inspiração de Fátima Dantas. Ao se transportar para esse cenário, ela refletiu sobre os dons do Espírito e da Santa Trindade, que se desdobram em cores primárias que revelam tons multicoloridos destacados na obra. E, nessa viagem interior que a artista espera despertar no público, são elencados alguns dons, como o da sabedoria, por exemplo.
Rodrigo Saramago
Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, o escultor tem como marca registrada a leveza e fluidez de suas obras, transformadas do bruto para o celestial através de uma atividade que reúne, mutuamente, força e flexibilidade. Presença marcante em exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior, Rodrigo Saramago revela em vários trabalhos a sua espiritualidade e a conexão com o divino, através de temáticas que resgatam uma profunda meditação, como, por exemplo, suas esculturas denominadas Seres de Luz.
E é esse trabalho que Rodrigo leva para a mostra, fazendo o recorte de um país cuja tradição está ligada essencialmente à religião, sobretudo, a católica. O contraponto entre ferro e cimento, que foram os materiais utilizados, e a aparente leveza presentes nesta série resume para o artista a busca espiritual do Homem pelo equilíbrio.
Lucia Lyra
Graduada em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFRJ e pós-graduada em Design de Moda pela Anhembi-Morumbi, a técnica da artista está alicerçada nas artes visuais, reunindo pinturas com tinta acrílica sobre tela e papel, além de técnicas mistas, assemblages, instalações, poesias e registros escritos que propõem uma reflexão sobre o seu próprio trabalho. Desde o ensino médio, sob a grande influência do grande professor Nolasco Albano, Lucia iniciou seu caminho na arte. Logo em seguida, foi ganhando notoriedade em suas incursões pelo abstracionismo, obtendo, inclusive, algumas premiações.
Em seu olhar expressivo e simbólico, Lucia buscou na azulejaria portuguesa, impregnada pela vertente abstrato-geométrica, sua inspiração muito embasada no universo poético. Seu trabalho estabelece uma paisagem lúdica de recortes redimensionada pelas tramas e texturas que trazem latente a expressividade caligráfica e gestual. Na realidade, trata-se de um convite ao convívio singular entre o projeto e a desconstrução, a razão e a dúvida, questões essas que são basilares na existência humana.
Leila B
Graduada em Gravura pela EBA-UFRJ e especialização em Arteterapia pela UCAM, a artista traz em sua trajetória inúmeras vertentes, tanto no design de moda quanto na pintura, no mosaico e na cerâmica. Para essa décima edição do ENTREARTES, Leila B procurou se inspirar no próprio Solar do Jambeiro para expressar as referências lusitanas em sua obra.
Nesse caso, a estampilha portuguesa do Solar do Jambeiro, através de suas cerâmicas esmaltadas, foram as referências. E foram os desenhos desses azulejos e suas padronagens presentes na fachada da edificação que atraíram a atenção da experiente artista. Em uma de suas obras, parafraseando o poeta e filósofo português Fernando Pessoa, Leila propõe a seguinte reflexão: “Viver não é preciso. Navegar é preciso”.
Francisco Valença
A rica trajetória do artista e chef Francisco Valença se traduz nas suas referências artísticas. Filho de portugueses, mas nascido no Congo Belga, na África, onde a família passou a residir, foi nesse cenário que ele começou a se interessar pela arte, iniciação essa ocorrida através do desenho. Ao retornar para Portugal, aos sete anos de idade, ele passou a residir na Vila de Nelas, distrito de Viseu, na Região do Dão, onde adquiriu novos conhecimentos, a partir de um contato mais estreito com o artista plástico português, Luís Branquinho, que se tornou o seu professor de artes plásticas.
Chegando ao Brasil e trazendo na bagagem sua história e inspirações artísticas, passou a expressá-las em obras nas quais se utilizava de técnicas como o carvão, o pastel e a aquarela. Em suas reminiscências, Francisco retrata símbolos e caminhos pelos quais os portugueses percorreram até chegar em terras brasileiras. Entre elas, está a icônica Torre de Belém, estrategicamente construída na barra do rio Tejo, que permitia observar as caravelas cruzarem a linha do horizonte até desaparecer das vistas do observador. Com esse movimento, o artista pretende trazer um bocadinho de Portugal para essa edição do ENTREARTES.
Serviço:
10º ENTREARTES | Março de 2020
Período de visitação: 6 de março a 5 de abril de 2020
Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 10h às 18h
Solar do Jambeiro - Rua Pres. Domiciano, 195 - Ingá, Niterói - RJ, 24210-271
*Evento gratuito e aberto ao público