No centenário de Jorge Amado, fotógrafo carioca e sua equipe expedicionária voltam à cidade de Gabriela para mostrar o que é que a Bahia tem em história, gastronomia e cultura. A cidade de Ilhéus teve seu extenso litoral esmiuçado pelas lentes de Fred Schiffer. Após explorar Cuba, Nova York, Perú, Amazônia, Jalapão, Monte Roraima, Chapada dos Guimarães e dos Veadeiros, o jornalista carioca é atraído pelo romance de Jorge Amado e o resultado são as 43 fotografias de Costa do Cacau e Descobrindo Gabriela, duas exposições em único espaço, no Forte de Copacabana, do dia 30 de agosto até 17 de setembro.
“Seu trabalho fotográfico é belíssimo e mostram um lugar que mesclava o que de bom e ruim havia naquele período referido nas principais obras literárias de papai, lá em Ilhéus”, elogia Paloma, filha de Jorge Amado. Os lugares retratados nos livros existem e a cidade pulsa história, mantendo preservado o casario colonial dos séculos XVIII e XIX - que remonta ao período em que o cacau era a atividade primordial da economia, tudo documentada na exposição Costa do Cacau. Já a malandragem do Bataclan, todos os cenários do romance e até os sabores que a mulata brejeira usou para conquistar o coração do sírio Nacib Saad estão na exposição Descobrindo Gabriela.
Cerca de 180 km, entre os municípios de Itacaré e Canavieiras, formam a chamada Costa do Cacau. Além de suas belezas naturais e opulência das paisagens de seus anos áureos, a expedição retrata o imaginário da obra de Jorge Amado. “Mesmo com a volta de Gabriela para a televisão, estranhamente nenhuma agência oferece o roteiro turístico de sua obra. Voltei para Ilhéus a fim de investigar as muitas histórias secretas que guarda a cidade. Quantos personagens, quantos amores e desamores! Minha maior descoberta foi saber que Gabriela foi inspirada em uma pessoa real. Também visitei o Convento da Piedade, o bar Vesúvio e percorri o antigo Mercado de Escravos trazendo para Copacabana um pedacinho dessa Bahia em registros fotográficos”, conta Fred Schiffer.
Com uma forma singular de recortar o mundo, a delicadeza das fotos reflete a alegria da viagem com a família e expressa o conhecimento sendo adquirido a cada passo dado, a cada rua caminhada, em cada fachada das igrejas e casarões. Fred Schiffer consegue imprimir em suas fotos a cultura de um lugar, por muitos, ainda desconhecido, onde seu povo é representado em pequenos detalhes do cotidiano. A exposição Costa do Cacau é uma realização da FS Fotografia&Aventura, com patrocínio do Forte de Copacabana, Universidade Unigranrio, DH Buffet e Fundação Cultural de Ilhéus e apoio da Agência Interativa de Publicidade, VilaSeca Assessoria de Arte, FR Impressões, Printstorm, Polengui e Pousada Rio Mar.
FRED SCHIFFER
Fred Schiffer, 48, ganhou sua primeira máquina fotográfica aos nove anos como pagamento do pai, topógrafo, por ter ajudado na abertura de trilhas do Rio até a Bahia. No lugar do carona de um jipe Willys 67, era responsável por cuidar dos equipamentos de topografia, facões, barracas e da comida. Com esta 110mm começou a registrar as viagens e tudo o que uma criança da cidade jamais poderia ter a oportunidade de ver.
Aos 14 anos já trabalhava e com o dinheiro do salário investiu em vários cursos de fotografia. Aos 16 foi trabalhar com o repórter Luiz Carlos Issa no jornal Última Hora. Por conta dos pesadelos das imagens dos corpos baleados, trocou a rua pelo estúdio do fotógrafo argentino Sergio Nieto. Passou a fotografar modelos, produtos e desfiles. Foi professor de fotografia, executivo da Warner, da Disney e do Telecine. Ao mesmo tempo começou a investir nas viagens e na fotografia como projeto para a vida.
A primeira viagem foi para Abrolhos, seguida de aventuras na Chapada Diamantina e em São Gabriel da Cachoeira, situado no extremo noroeste do Amazonas. A área do lugar é maior do que a do estado de Alagoas. A bordo de uma voadeira (barco de alumínio com um motor potente) percorreu as comunidades ribeirinhas do Rio Negro. Nesta viagem, escalou e fotografou o Pico Cucuí. Teve contato com as Farc quando foi abastecer o barco na margem colombiana onde o combustível é mais barato. Registrou ainda os lagos desta parte alta do Rio Negro, sempre passando as noites em sacos de dormir. Desta viagem sobrou a lembrança de ter remado uma canoa indígena e afundado com todo o equipamento e comida.
A viagem para a região nordeste de Goiás, para a Chapada dos Veadeiros, incluiu Alto Paraíso no mês e ano que se acreditava que o mundo fosse acabar e essa seria uma das únicas localidades a permanecer. O registro desta viagem contém todas as trilhas cheias de cristais reluzentes, fato que fez a Nasa solicitar ao Brasil uma explicação desta quantidade de luz detectada pelos satélites. Nesta expedição, Fred teve contato íntimo com o cerrado: entrou de cabeça numa árvore com um galho que atravessou o couro cabeludo. Como o guia era experiente, jogou na hora álcool com arnica.
Em 2000 seu destino foi o Jalapão, em Tocantins, uma das regiões mais inóspitas do país e com baixa densidade demográfica o que gera longos percursos sem se avistar viva alma. A única pousada da região é de luxo, não por uma razão turística, mas porque ali era um dos esconderijos do traficante Pablo Escobar. Além da paisagem, Fred registrou um acidente ecológico. Um incêndio no Parque Nacional do Jalapão que transformou a flora e fauna de forma irreparável. Outra dificuldade aconteceu em 2004, quando grileiros o viram fotografar a região daChapada dos Guimarões. Ficou a imagem da falta de fiscalização em 2.518 km² de área de proteção ambiental.
Sua última viagem resultou na exposição Monte Roraima, a montanha sagrada, com registros de sua visita a comunidade indígena de Paraitepuy, localizada no Parque Nacional Gran Sabana, Venezuela e a subida até mais de 2.700 mil metros de altitude. A região é única também em relação à flora e fauna, exaustivamente registradas por Schiffer, que teve o pé quebrado numa das fendas do Monte. Com uma tala foi possível continuar o trabalho: "Foi inacreditável, a ponto de pensar que o respeito à montanha estava escrito há milênios. Não tinha como interromper o meu projeto apesar da dor. Fotografei as imagens que os deuses permitiram”, conclui.
Outras viagens registradas pelo fotógrafo foram Havana, Cuba (exposição que correu as Unidades da Universidade Unigranrio em 2007/2008 e o Carioca Shopping), Nova York (Rio Design Center Leblon 2010), Peru (Forte de Copacabana - 2009) e Nuvens da Amazônia (exposta nas Unidades de Universidade Unigranrio em 2006, Bangu Shopping e o Carioca Shopping).
Serviço:
Exposição Costa do Cacau por Fred Schiffer
Período: 30 de agosto até 17 de setembro
Forte de Copacabana
Praça Coronel Eugênio Franco, 1 - Copacabana - Rio de Janeiro
Entrada gratuita
Informações:
http://fredschifferfotos.com/