Ao embarcar no ônibus, os olhos de Dimitrius Borja encontram os estudantes de geologia. Ao desembarcar no interior do Nordeste com eles e outros pesquisadores, o mesmo olhar se encontra com sertanejos. Vidas acima do chão. Resquícios de existência, fósseis animais, abaixo dele, aparentes com pouca escavação. Tantos encontros são fruto da expedição de seis mil quilômetros partindo do Rio para percorrer o interior da Bahia, Pernambuco, Ceará e Paraíba. Junto de integrantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Borja realizou o percurso em 2016 e o que capturou com suas lentes chega agora à Galeria La Salle.
Em “Sertões” o convite ao visitante é conhecer o Brasil para além do que ele vê da janela por meio de 19 fotos, fósseis encontrados na região, cedidos pela UFRJ, vídeos e mapas, uma coletânea de linguagens com um objetivo: a descoberta. “Quando decidi me inscrever no edital do Centro Cultural Correios para a primeira mostra, mais do que minhas fotos na parede o que me motivou foi imaginar que se eu trouxesse aquele material eu poderia despertar algo, estimular nos jovens o sonho de outras profissões, como a de geólogo”, explica Borja citando a bem-sucedida exposição nos Correios de Niterói em 2018, após ser vencedor de edital nacional. Já ali, no entanto, ele conseguia atingir outros públicos, como as crianças. Diante de uma de suas imagens, um sertanejo com seu estilingue em primeiro plano e bois ao fundo, certo comentário foi deixado em bilhete: “Adorei o boi pequeno. Assinado: Homem-Aranha”.
No caso do Dimitrius menino, a infância foi marcada por outras imagens: aquelas folheadas nas páginas das revistas Geográfica Universal e Realidade; aquelas feitas com sua máquina descartável Love, cujo filme era revelado na Zona Franca de Manaus; aquelas com que sonhava, expedições como a dos alemães von Spix e von Martius pelo Brasil entre 1817 e 1820. Quando criança, o fotógrafo vivia entre três estados, o que ele considera preponderante para o trabalho de 2016 ou mesmo para trabalhos anteriores, como o registro da tragédia do Morro do Bumba: “Sou goiano e passei várias férias na fazenda dos meus avós maternos, em Goiás, e dos meus avós paternos em Florianópolis, morando em Niterói. Cresci neste triângulo, convivendo com as diferentes culturas, entendendo o linguajar desse sertanejo, essa simplicidade”.
A expedição permitiu o contato com moradores de povoados onde não chovia há cinco anos, a partir de um convite do então diretor do Instituto de Geociências da UFRJ. O professor Ismar Carvalho levaria alunos da faculdade para uma experiência de campo e pensou em Dimitrius Borja para registrar esta imersão. Se partiu da Academia, as imagens do sertão agora voltam a ela. “Eu acho incrível uma outra universidade ter essa humildade, graças à coordenadora Angelina Accetta, coerente do poder do que é capaz de atingir as pessoas. Essa é minha busca, tocar mentes e corações, remeter as reminiscências de infância, origens, histórias. A fotografia desperta isso, e é gratificante”, conclui Borja. Para Angelina, responsável pela Galeria La Salle, “Sertões” tem o intuito de “descobrirmos, no mês do meio ambiente, um Brasil quase desconhecido”. “É uma expedição do olhar além das paisagens, é um olhar esperançoso frente a um mundo possível mais fraterno. Queremos despertar nos nossos alunos a simplicidade, a quietude, a sabedoria em escutar a natureza”, finaliza.
Exposição Sertões na galeria La Salle (Dimitrius Borja)
SERVIÇO
Exposição “SERTÕES”
Inauguração DIA 05/06, QUARTA-FEIRA, ÀS 19H
Permanência
Quando: De 05/06 a 29/08. Segunda a sexta-feira, das 9h às 21h
Onde: Galeria La Salle — Unilasalle-RJ — Rua Gastão Gonçalves, 79, Santa Rosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário