Lançada pela primeira vez em 1998,
quando teve os seus 3 mil exemplares esgotados rapidamente, a obra de
referência “Rio de Janeiro: Centro Histórico Colonial - 1567-2015”, de Nireu
Cavalcanti, ganha uma edição revisada e ampliada. Na próxima quarta-feira, a
partir das 17h, na Livraria da Travessa (Rua Sete de Setembro, 54, Centro do
Rio), a Andrea Jakobsson Estúdio Editorial fará o lançamento da segunda edição,
que terá tiragem de mil exemplares, ao preço de R$ 90 cada um.
Entre as diferenças para a obra
original estão a inclusão de logradouros e a atualização das fotos das
edificações remanescentes e do mapa. De acordo com o autor, o mapa contendo a
área urbana em 1808, quando a cidade recebeu a Corte portuguesa, está
superposto a uma foto aérea atualizada, que inclui todas as transformações
havidas até o ano passado.
“O livro resulta de anos de pesquisa
sobre a cidade, para a tese de doutorado sobre o Rio de Janeiro setecentista.
Fiz fichas dos logradouros com todos os nomes que surgiam em documentos primários
e em livros sobre o Rio. Percebi a necessidade para os estudiosos da cidade de
um livro tipo dicionário sobre os logradouros e edificações surgidos no período
colonial da Cidade Maravilhosa. Como sou arquiteto e urbanista, busquei usar,
além do recurso textual, as imagens iconográficas como ilustração do texto”,
explica o alagoano Nireu Cavalcanti.
O livro pretende suprir a falta de
uma fonte de consulta, objetiva e concisa, que reunisse os logradouros, ao
longo de sua existência, desde seus nomes originais até os atuais. Faltava um
livro que juntasse todas essas informações, ligando-as a uma linguagem
gráfico-visual (mapa, por exemplo) de fácil leitura e identificação. O
público-alvo que se busca com esta obra são os amantes da “Cidade Maravilhosa”,
desde o mais refinado intelectual até o aluno do primeiro grau; do guia de
turismo à dona de casa.
Trecho do livro sobre a origem dos
nomes dos logradouros
“É importante entender como se
originaram os diversos nomes dados aos logradouros classificados por nossos
antepassados, segundo algumas características, de caminho, estrada, azinhaga,
campo, paragens, sertão ou rocio, antes de passarem a ser denominados rua,
beco, travessa, largo, praça ou praia. Houve um momento em que as autoridades e
a população, percebendo as transformações ocorridas na via, passaram a enxergar
um caminho como rua, ou um campo como praia e a transição que percorrera de
espaço rural ou semi-rural para urbano.
A primeira denominação, em geral,
consistia em mera descrição de sua situação em relação a outros logradouros,
acidentes geográficos, edificações importantes, marcos referenciais da cidade,
ou mesmo formato. Assim, a uma via perpendicular à orla marítima chamou-se
“Desvio do mar” e àquela, no alto do morro, “Cume do sal”. Havia o “caminho que
vai para a Ajuda” (igreja) e o “que vai da Ajuda para o Desterro”, bem como o
“caminho dos Arcos” (aqueduto da Carioca), da Forca ou da Polé, do Boqueirão e
as Ladeiras do Seminário ou do Poço do Porteiro, o Beco do Cotovelo, a denunciar
que apresentava grande inflexão.
Com o passar do tempo, o logradouro
adquiria o nome da edificação mais significativa que por acaso nele existisse
ou, porventura, que a ele conduzisse. Assim, foram batizadas a Rua da Cadeia,
do Aljube, da Ópera, do Guindaste, do Cemitério, do Rosário, da Alfândega, do
Senhor dos Passos, do Bom Jesus, da Candelária, de São Pedro, do Açougue, do
Quartel, de Bragança, de Santa Efigênia, da Boa Morte, Detrás do Carmo e Detrás
do Hospício... Como se vê, são nomes que, em sua grande maioria, referem-se às
igrejas já existentes nesses logradouros.
Também era comum o povo passar a
chamar uma via escolhendo o nome de algum de seus moradores a partir da
notoriedade social adquirida. É o caso, por exemplo, da Rua da Assembleia, que
antes foi conhecida como a Rua do Padre Bento Cardoso, de Marcos da Costa ou de
Manoel Ribeiro. O mesmo se deu com a atual Rua Buenos Aires, que fora do Padre
Luiz Mattoso, do Teixeira, de Ascêncio Matoso e do Sebastião Ferrão.
As profissões ou tipo de comércio
deram, igualmente, origem a nomes dos logradouros: Rua dos Pescadores, dos
Latoeiros, dos Ourives, das Violas, da Quitanda, dos Escrivães, do Sabão, das
Carnes-Secas, dos Madeireiros, dos Ferreiros, o Beco dos Barbeiros, o Beco do
Azeite, a Praia dos Mineiros e a Praia do Peixe. Até mesmo um fato pitoresco ou
marcante para a cidade que ocorrera numa determinada área poderia ser motivo
para o batismo do logradouro: Matacavalos, Mataporcos, Quebra-Canela, Rua do
Fogo, Rua dos Três Cegos, Rua da Fidalga, Campo dos Ciganos, Rua da
Escorregadeira ou Rua do Sucussarará que, para alguns historiadores, advém do
fato de ter ali residido um médico especialista em curar doenças do reto, mas,
para o qual concorro com outras hipóteses no decorrer deste trabalho”.
Sobre o autor
Nascido em 12 de maio de 1944, na
cidade alagoana de Olivença, Nireu Oliveira Cavalcanti é arquiteto, urbanista,
doutor em História Social, com ênfase em História urbana, e especialista em
Planejamento Urbano e Regional e em Metodologia do Ensino Superior. Como
arquiteto é o responsável pelos projetos (partidos arquitetônicos) do “Centro
de Estudos do Petróleo” para o Instituto de Geociências da UFF, em 2005, e do
campus avançado da UFF, em Rio das Ostras (RJ), em 2004), e pelo projeto para o
Laboratório de Conforto Ambiental e Eco Eficiência, da Escola de Arquitetura e
Urbanismo, da UFF, também em 2005.
Ex-Diretor (entre 2003 e 2007) e
atualmente professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF, Nireu tem
entre seus livros publicados os seguintes títulos: “O Rio de Janeiro
setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada
da Corte” (Zahar, 2003, com reedição pela Biblioteca Rio450 – publicação
oficial, em 2015); “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro colonial: da carta
de Caminha ao contrabando de camisinha (1500-1807)” (Civilização Brasileira,
2013); “Arquitetos e engenheiros: sonho de entidade desde 1798” (Crea-RJ,
2007); “Crônicas históricas do Rio colonial” (Civilização Brasileira/Faperj,
2004); “Santa Cruz: uma paixão” (Relume Dumará/Prefeitura do Rio, 2003); “Rio
de Janeiro centro histórico 1808-1998: Marcos da Colônia” (Anima/Dresdner Bank
Brasil, 1998); “Construindo a violência urbana” (Madana, 1986), e “Casarão
vermelho: centenário da construção do quartel do Comando Geral do Corpo de
Bombeiros, 1908-2008”, com Renata Santos (Casa da Palavra: CBMRJ, 2008).
Nireu Cavalcanti ficou com o primeiro
lugar na 42a Premiação Anual do Instituto de Arquitetos do Brasil, em 2004, com o
livro “O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da
invasão francesa até a chegada da Corte”, e recebeu em 2003 moção de
congratulações pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro “pela
qualidade intelectual, gráfica e artística da (mesma) obra”. Ainda teve seu
nome entre as personalidades que se destacaram no Rio de Janeiro, em 2003,
segundo a revista “Veja Rio”, e foi indicado para o Prêmio Faz Diferença, do
jornal “O Globo”, em 2012, na categoria Ciência e Saúde.
Ficha técnica
Rio de Janeiro Centro Histórico
Colonial, 1567-2015
Autor: Nireu Oliveira Cavalcanti
Andrea Jakobsson Estúdio Editorial –
148 páginas, R$ 90,00, formato: 21x28cm, ilustrado, colorido, mapa encartado
Edição: português
Apoio: Faperj
ISBN: 978-85-88742-69-7
Textos e pesquisa: Nireu Oliveira
Cavalcanti
Impressão: Gráfica Santa Marta
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